MAIS UM REGRESSO DA DE BEERS

Os investimentos da multinacional sul-africana De Beers, em Angola, estão a avançar de forma “bastante progressiva” e a pretensão é acelerar e expandir ainda mais. De maus da fita, os sul-africanos são agora, voltam a ser, os bons do MPLA. Os diamantes fazem milagres.

A informação foi prestada pelo CEO da De Beers Group, Al Cook, após uma audiência concedida pelo Presidente da República, João Lourenço, em que também participaram (apesar de não aparecerem na foto) o presidente do MPLA e o Titular do Poder Executivo), em Luanda, na qual foram analisados os projectos de investimento da diamantífera sul-africana, em Angola.

“Vamos continuar a trabalhar com o Governo de Angola, vamos continuar a trabalhar com o ministro Diamantino Azevedo, vamos continuar a trabalhar com a Endiama, que são um dos nossos parceiros bastante respeitados, para que possamos expandir, cada vez mais, as nossas actividades neste sector”, afirmou Al Cook.

Com dois contratos de investimento mineiro para explorar diamantes nas províncias da Lunda Norte e da Lunda Sul, a diamantífera sul-africana realiza estudos de electromagnética, que visam a localização de Kimberlito.

“Apraz-me dizer quanto a isso duas coisas: em primeiro lugar que esses estudos já estão concluídos em 50 por cento. Isso vai nos permitir que avancemos e a próxima fase seria a realização de pesquisas magnéticas através de aeronaves. A segunda fase será a perfuração para que possamos certificar realmente se existem diamantes no solo angolano”, esclareceu.

Al Cook destacou (como não poderia deixar de ser) as reformas implementadas pelo Executivo, com vista à atracção de investimento estrangeiro e que incentivaram o regresso da De Beers às operações em Angola, depois de uma ausência de dez anos.

Entre as medidas, o empresário realça o facto de Angola ter aderido à Iniciativa Internacional de Transparência nas Indústrias Extractivas, a liberalização cambial e a liberalização de vistos.

“Eu afirmei ao Sr. Presidente que Angola é um país que tem recursos bastante importantes e recursos esses que deverão ser aproveitados. Mas todos esses (recursos) só criarão valor graças ao trabalho que tem sido empreendido pelo senhor Presidente da República”, declarou.

Segundo Al Cook, as medidas de política mais atractivas adoptadas pelo Executivo vão fazer com que outros investidores possam investir em Angola.

Relembre-se, recorde-se, que a De Beers já tinha assinado em Abril de 2022 dois contratos de investimento mineiro com o governo angolano para explorar diamantes nas províncias da Lunda Norte e Lunda Sul, marcando assim – foi revelado na altura – o regresso ao país da diamantífera sul-africana.

Os contratos resultaram de “várias rondas negociais entre as instituições angolanas e a De Beers, desde Outubro de 2021”, salientou na altura o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (Mirempet), num comunicado.

O Folha 8 escreveu em 19 de Abril de 2022:

«A De Beers vai efectuar prospecção de depósitos primários de diamantes numa extensão territorial de 9.984 quilómetros quadrados, nos municípios de Saurimo, Dala e Muconda, na província da Lunda Sul e numa área de 9.701 quilómetros quadrados, nos municípios de Chitato, Lucapa e Cambulo na Lunda Norte.

«Angola negociava há vários anos o regresso da De Beers ao país, num processo de recuperação da confiança da diamantífera sul-africana, reconhecido como “difícil” pelo próprio ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino de Azevedo, em Fevereiro de 2020.

«O conflito entre a De Beers e o Governo angolano, através da diamantífera Endiama, começou no início de 2000, depois de as autoridades angolanas terem suspendido todos os contratos de compra e venda de diamantes no âmbito de uma reestruturação do sector, que incluiu a criação da Sodiam, empresa a quem foi atribuído o monopólio da comercialização dos diamantes angolanos.

«Na sequência desse agravamento de relações, no final de Março de 2000, um lote de diamantes provenientes de Angola, enviado pela Sodiam, ficou retido em Antuérpia, Bélgica, durante alguns dias devido a um pedido judicial da De Beers, que defendia os seus direitos sobre a comercialização daquelas pedras preciosas.

«Nos meses seguintes, registaram-se várias iniciativas para melhorar o relacionamento entre as duas partes, que incluíram uma deslocação a Luanda do presidente da multinacional sul-africana para se encontrar com o então Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, mas todas sem sucesso.

«Por essa razão, em 2001, ano em que suspendeu a sua actividade em Angola, a De Beers moveu vários processos arbitrais contra o Estado angolano, que viria posteriormente a perder.

«Em 2018, aquando da sua deslocação a Angola, o CEO da De Beers, Bruce Cleaver, foi recebido pelo Presidente de Angola, João Lourenço, manifestando satisfação pelo convite lançado à multinacional para regressar ao país, onde mantém desde 2014 uma presença residual.

«Bruce Cleaver será o signatário dos projectos que serão rubricados pela parte angolana por Jacinto Rocha, presidente da Agência Nacional de Recursos Minerais, e José Ganga Júnior, presidente da diamantífera estatal angolana, Endiama.

«O comunicado do Mirempet destaca que “o renovado interesse da De Beers em projectos diamantíferos em Angola decorre das reformas implementadas pelo executivo”, conferindo “maior transparência aos processos de outorga de direitos mineiros, bem como uma maior participação no desenvolvimento sócio-económico das zonas mineiras”.»

Os maiores produtores de diamantes do mundo são a Rússia, o Botswana, o Canadá e a Austrália, e a indústria dos diamantes é dominada por duas companhias mineiras, a Alrosa (da Rússia e que opera em Angola) e a De Beers, que opera no Botsuana, Canadá, Namíbia e África do Sul. As duas companhias representam cerca de metade das vendas de diamantes em bruto em todo o mundo.

Angola, como todo o mundo sabe mas que poucos dizem que sabem, é actualmente aquele país que para uma população de cerca 34 milhões pessoas tem 20 milhões de pobres, tem um enorme potencial diamantífero nas regiões norte e nordeste do país, com dados que indicam para a existência de um total de recursos em reservas de diamantes superior a mil milhões de quilates.

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